quinta-feira, 1 de novembro de 2012


Saudade

Quero um trem para a saudade
Um trítono incomodando a música européia de câmara
quero a escala heptatônica que não pode chegar ao fim
Minha burca de volta
Meus pára-quedas enluarado
Quero sementes de morfina pra quando a dor chegar
quero aproveitar o sol para quando a chuva cair
Sair nela chupando os artifícios do ar cheio de metais
E do metal precioso que um si bemol desafiador
Quero a afinação em Lá
Pois lá chegaremos com impulso gravitacional
quero sonhar com seus lábios de boca maior que meus sonhos
Não quero sua língua afiada em português clássico
Quero 'uai', 'talvez, meu filho', quero um beijo assassino de graça
Tantas trapaças que o tempo te dá
E peças que os destilados deslizantes de veneno calam
Quero a morte e a vida num brilhante dueto
Quero o seco, a economia de segredos, a poesia escarnada
A ordem mítica das canções modais
o erro plácido da noção de juízo
o Medo ácido do ruído nas músicas de câmara
Isso é física e matemática, brother
isso é espécie humana em movimento acelerado
hematomas, hemorroidas e cansaço...só pra escutar balela
Um poema antigo de Burroughs
Um mapa novo das mentiras que não disse
Mandei meus poemas pra bela moça
Ela tem de tê-los para quando eu não mais for entre vós
Abra a janela dos sentidos e vem ver o que me matou
Foi ao jogar call of duty sem capacete apropriado
Quero um uníssono para o sono e um ônibus pra saudade
Hoje o curral está aberto, as vacas serão marcadas a ferro e fogo
Não quero mais essa prisão
E agora sei tudo sobre o que quero
Só me resta querer.

Um comentário:

  1. Ir... Deixar ir tão somente... Leveza que amadurece sentimentos... Fluir... Encontrar e se entregar... Ser somente feliz.
    Bj. Célia.

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