sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inês

Todos os dias,à mesma hora do dia Inês saia de sua casa sempre cabisbaixa,aparência sofrida,sem vaidade,vestida simplesmente,cabelos presos,sem nenhum adorno,sem pintura no rosto e também sem um sorriso sequer.
A curiosidade dos moradores do vilarejo foi despertada,não só pelo ritual contínuo que Inês fazia todas as manhãs,como também,porque trazia alguma coisa em sua mão direita,fechada,para ninguém ver.Sabia-se que era algo muito pequeno...
Quando regressava para casa,o que não demorava quase nada,Inês com a mesma postura,
o perfil caquético ,o mesmo ar pensativo...tudo igual.Só não trazia a mão fechada,o que presumia-se que ela deixava o objeto em algum lugar.Voltando a falar sobre os comentários...foi crescendo e várias suposições levantadas,algumas até maldosas comprometendo sua reputação.A vizinhança saia nas janelas para ver Inês passar...E ela
sempre triste,seguia o seu percurso.Ninguem ousou seguí-la,o que poderia satisfazer mais depressa a curiosidade dos ociosos,mas a humildade estampada em seu modo
de andar impunha-lhe muita dignidade.Parece um paradoxo,mas não é.Dignidade com humildade formam uma grande parceria...de dar inveja!Bem,mas continuou Inês a cumprir a sua tarefa matutina,sempre às seis horas,quando o sino da matriz chamava seus fiéis.E asim foi por muito,muito tempo...Um dia,Inês não passou,no outro também não até que deixou de passar.Mais rumores,comentários e maledicências..Um dia,quando
o comportamento cotidiano de Inês já estava quase esquecido por todos,num horário que não era de costume do vilarejo,toca o sino da matriz...Era o reverendo anunciando a morte de Inês...até então ninguem sabia seu nome.Cidade pequena,uma vila aguada e simples,quase sem recursos,é claro,velório é um programa.Todos foram ao velório na ânsia própria do ser humano,para ver de perto quem era a infeliz.
O espanto foi geral ao reconhecerem o semblante daquela mulher!Logo,todos já comentavam que era a mulher de todas as manhãs.Como toda pessoa que não tem expressividade social e econômica,com Inês não foi diferente...seu velório assim o foi.
Na hora do sepultamento,bem ao lado da Matriz,um campo de rosas de todas as cores e
resplandecentes foi visto por todos,o que gerou grande surpresa permeada de rumores
porque ninguém sabia que Inês levava todos os dias sementes variadas de todos os tipos de rosa para formar ali um roseiral...Inês sabia que assim que florescessem,ela iria descansar e sabia também que cada rosa representaria,cada uma delas,um pedacinho da sua história de amor,e,que o roseiral todo representaria fielmente toda a sua história de Amor,compondo até mesmo o seu cenário!!!!!